29 de mar. de 2007

circo de pequena paragem

careta

sou careta
e te olho assim de lado
com certo receio

a noite toda te vejo cheia
existindo como alma
como pena

sou careta como cha
como biscoito
como geleia de pêssego
e você é tudo isso
como coisa que enche barriga
e descansa
descansa de parir, de botar pra fora !

sou careta
pra que sonhe comigo outro
que eu nao seja
que nao desgaste
que talvez nem sonhe

sou careta como peso leve
é uma espécie de meio existir desistindo
com uma coragem doida
das que rasga a vida inteira
e joga pela porta dos fundos
como um parir
que é penetrar inteiro pra fora
de minha propria referência

sou careta pela falta de beijo
em tua boca lua
de tantas formas, faces, batons
e intrigo
como bicho que impaca
e casto careta que me concebo
torno a doer !


confissao

te nho receio
de deitar sempre assim
onde o seu branco
recebe a cor dos meus uis

tenho receio
desse cochicho baixo
sem do, dizendo ais

tenho receio
que tudo seja outra forma
como nada

com as maos

esse teu cheiro em tudo
como um crime
invadindo a casa, ameaçando !

esse teu cheiro
forma olveolada
que puxando os cabelos me denuncio
que com as maos tento e perco

esse teu cheiro apressado
jogando as roupas
como um louco faz
me deixando sem respostas, sem defesas

esse teu cheiro
segredo de nos dois
que você nao sabe, nem poderia
segredo que é meu e minha loucura

esse teu cheiro escrevendo linhas, mapas
cartas geograficas
que tato vou e nem sei o que procuro

esse teu cheiro vidro
dando a sensaçao de transparencia
eu olho-tato inteiro
pura ilusao

esse teu cheiro ja calmo
depois de atravessado o rio
dizendo que o amor e a loucura
precisam de paz !!

decifrando

descortina-se o amarelo pardo
do amor ja gasto
cada um pensa o seu

o amarelo do amor
é amor direito
sem tratamento
nao amor lampiao
de briga e luz
de espada veu lua chuva
amor do mato
cheio de falta de quinhao

amor verde loiro ( bandeira ! )
mas quem diria
desse amor plastico, transparente
nesse mar dessa cor !

à toa

tem alguém ai batendo à porta
porta estreita, aberta !

tem alguém ai
que bate divertindo
um bater desmedido
contra o tempo

bate o dente bate
faz tanto frio e grita
dado tempo
as portas nao mais serao

bate por aceleraçao
pressa medo
e devesse nao bater
ainda assim bateria

bate esconde
igual menina feito saci
sem consulta sem coraçao

bate e as horas
todo esse caminho
as folhas brancas
tanta confissao

bate porque corre
corre odniv
rindo à toa !!

concha

fiz um poema
onde tive coragem
joguei fora as roupas, dansei, dansei

um poema onde ouvia musica
e via uma estatua
de carne, de metal

um poema todo medido
nota por nota
fio por pavio
fiz mais tantos poemas

um poema, un xote
eu cavaleiro e onde os cavalos ?

fiz se deveria
fez-se
à feiçao de madre pérola
sem pronunciar substantivo
o poema !

pra começo de assunto

precisamos nao dizer os poemas
eles estao cansados
guardemos os poemas no fundo do mar

precisamos eternizar os poemas
comendo os poemas
palavra por palavra
silaba por silaba
letra por letra

poemas sem virgulas
sem pontos

morte do vaqueiro bento

os sapos estao quietos
na lagoa do barro !!

um grito rouco atravessa o matagal
segue estrada
e ca entre nos
alguma coisa nao vai bem !

os passaros da noite
hoje estao em sentinela
nao ha dor nem magoa
apenas quatro tabuas cobertas de roxo
fazem o cenario

deus nao tem nada a ver com isso !

no quarto da casa grande
desliza da janela a vida inteira

o menino bem pequeno
vem trazendo agua
mas ela chegou primeiro

apenas um corpo ampara outro corpo
com calma e bondade

o grito chega e diz aos homens
ca da cidade
que tudo isso passa
passa ligeiro
debaixo daquele roxo
a agua nao se aproveita

um ar de rosas vem colorir de dor e falta
a sala grande de redes e tamburetes
os homens estao sentados inquietos
as mulheres reviram o terço
e a noite caminha num bater de labio
que nao é reza, nem é cantiga !

depois da noite ja ida
o sol ja vendo esse mundo
outro irmao faz vagaroso
a reforma tao prometida
os latifundios estao a salvo

a terra que é do vaqueiro é de ninguém

o espirito encomendado
vai ao encontro dos seus
e a terra mansa, acolhedora
vai recebendo aos poucos
o irmao que é terra
livre das ilusoes

um medo agudo
consome as almas ainda desse mundo
( nem deus sabe até quando )
é um medo tolo, grande
medo de aboio, de quixabeira
de noites escuras !

outros motivos

ha borboletas aqui
as horas estao indo
e nao ha uma unica estaçao
como um diamante

eles nunca mais virao aqui
nunca mais

voam num unico sentido de ir
e assistimos à tudo
tudo é tao impreciso
eles sao nos, nos quem ?

ha um homem imovel do lado de fora
assistindo a tudo
eu o chamo de desumano
e canta a mesma cançao, repete
interminavelmente
tudo parece ser cumplice

esse cheiro vem do vizinho
conheço esse cheiro, quem sera ele ?

ha esse medo, nao ha noite
nem estao pendurados !

as luzes fortes, os avioes à postos
donde vieram todos

ha algo entre minhas pernas
por favor pare com isso
minha alma esta perdida
a alma so, como o sol…

vamos; vamos,
acabe com isso de uma vez
quanto custa jogar as cartas ?

antes da praia

meu coraçao olha
ca do mirante
nao ha ninguém

meu coraçao esta corrompido
entrega-se

meu coraçao
nao tem mais escolha
pelo correio

viestes pelo correio
trazendo um nem sei que de novidade
viestes inteiro ainda que tandos pedaços
por toronto, viaduto do cha
( esse sonho antigo que é ver matéria
despencar ca de cima )

viestes manso e sem aviso
como fosse aviso de vir depois
guardando na lingua
a vontade sede de ver o mar
rir sem conta

viestes novidade, qualquer novidade
mas nao é nada dito de boca
nem por visceras
é a novidade dizendo-se
alheia a tudo
escrevendo de proprio punho
como joao escreve sendo tinta
como a vida move as proprias maos

nao é medo é novidade
cpùp cposa ^pr o,ve,tar
prestes à existir
coisa que posta nas maos causa pânico

coisa que é pura nao puritana
como a irma do joao, o sol, a tempestade
ainda assim
joao sendo papel et tinta, confessa
e comovido como um bêbado
declaro sua inocência

ivana

a boneca de pano mexeu o dedo
a boneca de pano crê e nao crê na matéria

ha um fogo nos olhos
nos outros olhos
que vêem tudo

escuta uma cançao
nada apos a morte
cala como a natureza
dela nao sendo

a boneca de pano
corre pra rua como um louco
porto kimiko

a noite vai nesse rio sem fim

indo pro mar
a lua na beira do rio
terra firme
tao dona de si

ainda assim o dia
sem precisao, a vida

claro, o dia é claro !

antes e depois

joguei o sentimento velho
escada a baixo
para pensar bem pouco
de jeito nenhum

joguei a familia, toda a louça
os domingos, gêlos e gelatinas

joguei para conquistar uma constelaçao
para ver rolando como rolam os corpos
sem sofisticaçao
como rola a vida imprecisa

joguei por querer as maos
aparar a grama
apagar as luzes
fechar a porta !
dimensao

estou vazio, nao sei cantar
fechei todas portas e janelas

como em romance
me pus vigia
- nada entra por esta porta porta fresta
quase coraçao
nada, nem sombra !

o menino pobre de pedir
farto de tudo
meio ja vindo
(diz de si para si )
mas o amor é um continente !
como um recado

volto
nem fui à lugar algum
(nao ha nada la fora)
se ha
deixo tudo ser
como houvesse dois mundos

apenas assisto
com uma paciência angustiada
de quem nao pode ter as rédeas

você chega, entra
la do banheiro escuto um barulho lento
(você tirando a roupa pra cagar)
depois bate alguma coisa
faz caminhos diversos
pra sala de visita

você ai, eu aqui
dois babacas
tentando entender coisas
tentando desfazer os nos
et nos ?

faces

fosse meu amor ideoplastico
na dança
sua roupa seda pele
voaria com minhas maos
( das flores do cobertor te faria presentes )

você rica
(como sempre quis)
veria em mim seu amor verbal
falaria dele
calada gozaria feliz

depois
nosso amor seria discurso
deitariamos à falar
de falar morreria

mas nosso amor morre calado


urgente

como posso amar em copasso
aprendendo
se o amor é louco, apressado
se por medo nao digo
se antes de dar quero
e sofro
se a tanto nao amo por nao saber
e guardo tanta ausência

como posso amar em compasso
aprendendo`se tenho que amar urgente
et sauf qui peut la vie !

as horas

as horas sao sem adjetivos
nao as suas
horas caras, divididas suas horas

sao asas as horas, antes
depois horas quando

por isso fico, as horas vao
inda canto triste
as vezes choro

as horas nao
as horas riem


inda por vir

a saudade tem vindo fazer visitas
saudade de amanha
até depois de horas
horas tao boas
tao sem horas
tao assim

nao precisava essa pressa
tudo mesmo é com mais jeito
paciência
( as maos olham e desatendem o coraçao )

esse caminho é ja percorrido
(meu pais tantos males nos rios, nos coraçoes)

mas você volta
faz carinho de bicho
deita
tira a roupa
(teu amor me aliena)

minha manifestaçao maior
é um grito
é te amar o mundo
durante
to sergio souto

que lingua estranha
canta esta cançao sem palavra
e bate
e meu peito ja nao cabe

que lingua estranha
é voz, instrumento
cabe dentro da mao

desligo
volto pra casa desiludido
nao ha nada
a ilusao se desmancha

a noite diversa nao acredita
como apenas assistisse tudo

que lingua estranha
vem de todos os sons
a dizer coisas de teimosia
crendo e tirando a roupa pra mim

que lingua estranha
diz
nao fala !

piedade

o poema faceiro na piedade
corre atras das mulheres
olha de cima à baixo
por ousadia ou desconhecimento
nao olha ruga
nem dedo
mas sabe quanto custa uma tarde

as vezes nao tira o olho
de dentro do coraçao

e vem com força contra o peito
esperto
trabalha, faz greve
vai à manifestaçoes ecologicas
chora e ri enorme
de deixar queixo caido

mas o poema é finito
diante da poesia, apenas sombra !

26 de mar. de 2007

pra que ser poeta ?? pra quem??? em que posiçao????

é legal ta ligado ao...
mundo mundo vasto mundo
pois me chamo toninho
ja de rimas nem se fala

vamos pondo pondo
quando passarinho
o mundo dos grandes
ovinho, pintinho, nanico !!